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Martin Rees (2007)
Página 22: Qual é a mensagem que o relatório do IPCC passa? É a mensagem correta?
Martin Rees: A mensagem é que as evidências científicas em relação ao aquecimento global estão se consolidando e, apesar de incertezas que persistem, está claro que o risco de consequências sérias ainda neste século é tal que vale a pena tomar medidas urgentes para minimizá-las.
22: Há críticas de que o relatório é conservador e desatualizado, por exemplo, em relação às previsões de aumento do nível do mar. Ele representa o estado-da-arte da ciência quanto às mudanças climáticas, ou um mínimo denominador comum para os países envolvidos?
MR: O relatório é, claro, um documento de consenso. Ele avalia de maneira razoável a situação científica — como ela era há uns dois anos. Mas pode subestimar alguns riscos. Embora eu não seja um expert no assunto, suspeito que a taxa de elevação do nível do mar pode ser substancialmente mais alta do que a taxa, muito moderada, que o relatório cita. Isso é porque as calotas de gelo da Gronelândia — e outras geleiras semelhantes — podem derreter mais rápido do que o relatório estima. Em vez de o derretimento ser determinado pela condução térmica pelo gelo, parece que o gelo racha, o que permite a entrada de água e acelera o derretimento e o descolamento de grandes blocos.
22: O relatório mostrou uma probabilidade de 90% de que o aquecimento seja causado pelas atividades humanas, ou seja, pela economia global. Há como solucionar o problema sem "desligar" a economia?
MR: Um fato inequívoco, sobre o qual não há controvérsia, é que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera é muito mais alta do que jamais foi nos últimos 500 mil anos, pelo menos, e vai aumentar para mais do que o dobro do nível préindustrial se continuarmos com o business as usual pelos próximos 30 anos. Somente esse fato deveria ser suficiente para motivar ações para tentar reduzir as emissões de dióxido de carbono. Acho que está claro que, se for para o mundo continuar a se desenvolver economicamente, em particular países importantes como China, a Índia e o Brasil, é preciso haver o rápido desenvolvimento de fontes de energia limpas. Se essas nações adotarem o estilo de vida que os europeus e americanos têm hoje, e produzirem tanto dióxido de carbono quanto o cidadão médio na Europa e nos EUA, as coisas serão realmente muito ruins.
22: Até os ambientalistas começam a falar em energia nuclear. Quais são as fontes de energia que o mundo necessita, em sua opinião?
MR: A maneira mais óbvia com que podemos melhorar as coisas é economizando energia, e isso é algo que deveria ser promovido intensamente na Europa e nos EUA — aquecer nossos edifícios de maneira mais eficiente, tornar nosso transporte mais eficaz etc. Essa é uma coisa que pode ser feita imediatamente e que, de fato, economiza em vez de custar dinheiro. Mas não podemos continuar dependendo de combustíveis fósseis, em particular de usinas de energia movidas a petróleo e a gás, a menos que se desenvolva uma maneira de capturar o dióxido de carbono. Então, um ponto é pensar em maneiras mais eficazes de capturá-lo. Mas, em paralelo, precisamos desenvolver fontes alternativas de energia, e a nuclear é uma delas. Claro que há usinas nucleares de energia em vários países, e eu sou a favor de mais pesquisa para novos tipos de usinas, mais seguras e eficientes que as atuais. Mas, ao mesmo tempo, há o desenvolvimento de novos combustíveis, em que o Brasil tem uma posição de liderança, e grandes esforços na direção de aprimorar a captação da energia solar. Na minha opinião, considerando as energias renováveis, há mais espaço para melhorias tecnológicas na captação de energia solar do que para outras formas renováveis, como a energia do vento ou das marés. Se houver uma maneira de cobrir grandes áreas com células fotovoltaicas sem custo de capital, isso seria um desenvolvimento benéfico.
22: Como se compara a energia solar aos biocombustíveis? No Brasil há debate sobre a área necessária para plantar, obter o combustível e atender o consumo interno e externo.
MR: Sempre haverá trocas difíceis entre as necessidades energéticas e ambientais. Acredito que a energia solar tem grande potencial. Os esforços mundiais em pesquisa e desenvolvimento em energia estão muito abaixo do que o desafio exige. Na verdade, o gasto mundial com pesquisa e desenvolvimento em energia é menor do que era há 20 anos. Está aumentando agora mas, considerando que o mundo gasta quase 3 trilhões de dólares por ano com energia e sua infra-estrutura, acho que deveria haver um esforço ampliado em todas as opções: solar, biocombustíveis à base de plantas geneticamente modificadas, novos tipos de reatores nucleares eficientes, fusão nuclear, e muitos outros. Acho que, se esse fosse um desafio proclamado internacionalmente, haveria um segundo benefício, o de encorajar os jovens a enveredar por carreiras científicas. Muitos não se sentem encorajados a optar pelas ciências físicas porque consideram que a maneira como elas são aplicadas é prejudicial ao mundo, ou há ambigüidades éticas. Se tornássemos claroque o principal desafio do século XXI é fornecer energia limpa e sustentável para o mundo em desenvolvimento e desenvolvido — e que isso requer novas idéias, pesquisa e desenvolvimento —, seria o tipo de coisa que inspiraria os jovens da mesma maneira que o programa Apollo inspirou os americanos nos anos 60. Mas esse é um objetivo mundial, deveria inspirar todo mundo.
22: Já há algum esforço colaborativo de pesquisa para novas fontes de energia?
MR: Há um estudo muito útil sendo desenvolvido por um comitê organizado pelo InterAcademy Council, que é um órgão das academias nacionais, do qual a Royal Society é membro. Os diretores desse comitê são o professor (José) Goldemberg, do Brasil, e o professor Steve Chu, um físico vencedor do Prêmio Nobel sediado na Califórnia, que está trabalhando com energia solar e, particularmente, novos tipos de biocombustíveis. Estamos aguardando ansiosamente o relatório, que deve ser divulgado dentro de alguns meses por esse comitê.
22: Como funcionaria um projeto no estilo do Apollo para energias limpas? Há recursos e vontade política para tanto?
MR: O projeto de fusão é um exemplo de iniciativa internacional e há outros. O orçamento do mundo para a pesquisa em fusão vai subir para cerca de 2 bilhões de dólares anualmente, e conta com colaboração internacional porque envolve uma única máquina muito grande, uma espécie de reator de demonstração. O que precisamos para outros tipos de energia também é uma única grande istalação, por exemplo, para testar o seqüestro de carbono. Mas outros tipos de pesquisa envolvem apenas pessoas inteligentes em vários laboratórios, explorando opções diferentes — isso não requer um único projeto colaborativo internacional.
Mas acredito que seria um sinal muito positivo se todos os países do G8 + 5 (os oito mais industrializados, além de China, Índia, Brasil, México e África do Sul) declarassem na próxima reunião do G8 (prevista para junho, na Alemanha) que o desenvolvimento de energia limpa para o mundo é uma prioridade importante. Se individualmente prometessem aumentar seu apoio a esse tipo de pesquisa, acho que seria um sinal positivo. Trata-se de um desafio mundial que poderia ser solucionado, em alguns casos, por grandes projetos internacionais, como o de fusão, mas, mesmo quando esses projetos não são necessários, o processo certamente ganha com parcerias internacionais. Seria ótimo se cientistas britânicos colaborassem com cientistas brasileiros na pesquisa de biocombustíveis, por exemplo.
22: Mas não há acordo nem mesmo quanto ao Protocolo de Kyoto. Os EUA não aderem enquanto os países em desenvolvimento não aceitare metas de redução de emissões, e estes, por sua vez, dizem: "Por que devemos sacrificar nosso crescimento econômico?"
MR: Sim, o problema do período pós-Kyoto é equilibrar os sacrifícios que precisam ser feitos por países ricos e países pobres. Não é razoável impor a carga sobre as nações em desenvolvimento. Mas acho que todos concordam que é do interesse comum ter um sistema que incentive a redução das emissões de dióxido de carbono. Esse incentivo pode ser simplesmente para economizar energia, mas também o estímulo à pesquisa mais rápida de novas tecnologias para substituir as usinas movidas a combustíveis fósseis.
22: Trata-se de encontrar uma nova forma de se desenvolver?
MR: Sim. Temos de aceitar que o maior problema foi causado pelos países desenvolvidos do Norte. Então, eles têm a maior responsabilidade e o G8 deve liderar o processo. Mas os outros cinco, que são grandes países ainda em desenvolvimento, precisam estar claramente envolvidos. Também devemos lembrar que a solução do problema requer idéias inteligentes e desenvolvimento e, se olharmos para onde está o capital intelectual do mundo no século XXI, ele não vai estar na Europa e na América do Norte, mas na Ásia e na América do Sul, porque é ali que a população se concentra. É ali que a maior parte dos talentos estará, e seria tolo não fazer tudo o que está ao alcance para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento ao redor do mundo.
22: O senhor mencionou a captura e armazenamento de carbono. Como funciona? É factível em grande escala?
MR: O seqüestro é simplesmente capturar o dióxido de carbono produzido pelas usinas de energia e armazená-lo sob a terra ou sob os oceanos. É factível — a União Européia e a China estão desenvolvendo modelos de demonstração. Se vai ser econômico ou não, depende de como andarem essas pesquisas. Mas é um projeto totalmente factível e, a menos que isso possa ser feito, deveríamos estar muito preocupados com o grande número de usinas a carvão que estão em construção agora, particularmente na China, na Índia e nos EUA.
22: Cientistas nos EUA propuseram recentemente um mecanismo para controlar a concentração de gases de efeito estufa com o lançamento de partículas de enxofre na estratosfera, o que levaria ao mesmo efeito de resfriamento do que uma grande erupção vulcânica. Qual é sua opinião sobre mecanismos de controle artificial do clima?
MR: Isso é muito diferente da captura e armazenamento de carbono, trata-se de controlar o clima do mundo ao reduzir a quantidade de luz do Sol que chega até a Terra.
Há idéias como essa em desenvolvimento também na Alemanha, além da possibilidade de instalar grandes painéis no espaço para bloquear um pouco a luz do Sol. Acho que são idéias muito futurísticas; é bom que algumas pessoas estejam pensando nelas, mas você bem pode imaginar a dificuldade de obter consenso internacional sobre como mudar o clima da Terra ou mesmo o tamanho das preocupações sobre conseqüências não intencionais e os riscos. Fico contente que isso esteja em discussão, mas não acho que deva nos desviar de desenvolvimentos que são realistas para os próximos 50 anos. E, se não fizermos algo nestes 50 anos, a probabilidade, como mostra o relatório do IPCC, é de uma elevação de temperatura que pode ser muito séria em várias partes do mundo, e talvez ainda pior se detonar efeitos de feedback positivo (quando o aquecimento gera mais aquecimento).
22: No Brasil parece haver uma febre do carbono neutro, com o plantio de árvores para compensar emissões. É uma boa solução?
MR: Acho muito bom, mas isso somente não será suficiente. É possível plantar muitas árvores no Brasil, mas não consigo imaginar que a China e a Índia possam compensar suas emissões de dióxido de carbono com o plantio de árvores. É apenas parte da solução.
22: De um lado, a espécie humana foi capaz de "superar" a seleção natural e espalhar mais de 6 bilhões de indivíduos sobre o planeta. De outro lado, ainda somos dependentes da natureza, como demonstra a ameaça do aquecimento global. Esse fenômeno é o resultado do sucesso da espécie humana?
MR: Sim, e, claro, de nossos números crescentes. Acho que o século XXI é a primeira era da vida desse planeta em que o destino do próprio planeta depende das ações de uma espécie, a humana. E isso se deve ao número crescente de pessoas e ao poder que cada indivíduo adquire com a tecnologia, o que significa que cada um de nós tem um grande impacto no planeta e na biosfera por causa da energia e dos recursos que usamos. De fato é uma conseqüência do nosso sucesso como espécie, mas agora temos de ter a responsabilidade de garantir que possamos passar para um nível sustentável. Se olharmos 50 anos para a frente, fico otimista de que teremos as novas tecnologias necessárias. E talvez daqui a 50 anos a população do mundo não esteja mais crescendo, mas sim diminuindo.
22: Mesmo assim, é sustentável uma população tão grande com o modo de vida que temos?
MR: São mais de 6 bilhões agora e as projeções são de que o número subirá para pelo menos 8 bilhões até 2050. Isso é inevitável por causa da distribuição de idade da população mundial. É correto dizer que as possibilidades de oferecer uma boa qualidade de vida para todos seriam maiores se a população não continuasse a crescer. Mas é muito provável que as mesmas tendências sociais que fizeram com que a população da Europa parasse de crescer eventualmente ocorrerão ao redor do mundo — a educação das mulheres e outros fatores terão como conseqüência a redução do tamanho médio das famílias. Outro ponto é que com o relatório do IPCC a ciência tornou-se menos controversa — os detalhes ainda são incertos, mas há consenso de que esse é um problema sério — e o foco agora está nas ações apropriadas e na questão econômica. Assim como há uma dimensão internacional, há também a questão econômica de como equilibrar os interesses das gerações futuras com aqueles da geração presente, e que tipo de taxa de desconto se deve aplicar à luz das incertezas do futuro. O relatório de Nicholas Stern, lançado em novembro em um evento na Royal Society, abriu o debate político e econômico sobre as alternativas — seja negociação de carbono, limites para emissões, assim como a taxa de desconto a ser aplicada.
22: Então o senhor está otimista?
MR: Para citar Al Gore, não devemos sair da negação do problema para o desespero. Podemos fazer alguma coisa e devemos agir. A resposta estará em usos mais eficientes de energia, diversificação das formas de gerar energia, maneiras de capturar o dióxido de carbono, tudo isso, mas fazendo de maneira a não prejudicar as aspirações legítimas dos países em desenvolvimento.
22: Em geral, a imprensa retrata ações contra o aquecimento global como se a humanidade tentasse controlar a natureza. Mas parece que o desafio é a humanidade controlar a si mesma.
MR: É preciso perceber que, se continuarmos como estamos agora, arriscamos infligir danos de longo prazo ao clima do planeta e à biosfera. Há um tema separado, mas relacionado à mudança climática, que é a perda de biodiversidade — algo que é um grande tópico para o Brasil porque vocês têm mais biodiversidade do que o resto do mundo. Temos de desenvolver o consenso internacional de que é preciso garantir coletivamente que a biosfera não seja alterada irreversivelmente pelas ações humanas a ponto de prejudicar as perspectivas das futuras gerações.
22: Como o senhor se sente, depois de anos estudando as origens do Universo, ao ver-se diante da possibilidade de o homem comprometer sua própria permanência sobre a Terra?
MR: O fato de eu ser um astrônomo não faz com que me preocupe menos com o que acontece aqui na Terra. Como ser humano, me preocupo muito com o que acontece com a espécie humana. Mas o fato de ser astrônomo me dá uma perspectiva especial, de duas maneiras. Primeiro, me faz perceber que, embora a Terra seja muito pequena na escala do Universo, ela pode ser muito especial porque pode ser um dos poucos lugares em que a vida se desenvolveu, sob a biosfera. Não sabemos se há outro tipo de vida em algum outro lugar, mas pode ser que a existência de uma biosfera complexa que permita o desenvolvimento da vida seja realmente muito rara. Isso torna o nosso planeta muito especial. A segunda coisa que aprendi com a astronomia é que a Terra, o Sol e o Universo têm mais tempo à frente do que o que já passou até agora. Então deveríamos estar cientes de que nós, os humanos de agora, podemos não ser o final do maravilhoso processo de evolução — esse processo ainda pode ter muito mais a caminhar. Portanto, se causarmos danos irremediáveis à biosfera agora, estaremos não somente prejudicando a nós mesmos, nossos filhos e netos, mas impedindo as potencialidades do que pode acontecer sobre a Terra em milhares ou até mesmo milhões de anos no futuro. Por exemplo, imagine que você estivesse vivo 250 milhões de anos atrás, quando os primeiros peixes subiram à terra firme. Se você os destruísse, não estaria apenas destruindo uma criatura feia, mas o potencial de vida terrestre. De maneira similar, se destruirmos a nós mesmos, seria uma tragédia não somente para a humanidade, mas para o futuro, que pode ir muito além do que podemos conceber. A astronomia, portanto, me deixa ainda mais preocupado sobre o que acontece agora, porque vejo que, mesmo da perspectiva de milhões ou bilhões de anos, esse século é muito especial. É o século em que nossa espécie pode determinar o futuro da vida.
Entrevista de Flavia Pardini para a revista Página 22 de 22 de Março de 2007 (fonte)
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